10 de junho de 2010

A ocidente, liberdade

Vieram do outro lado do mundo e mudaram-me o olhar e o sentir irremediavelmente. Eu tinha de deixar porque já não via para onde me virar no meio dos buracos todos que as rosas arrancadas foram deixando no meu peito. Agora estou virada para onde o sol se põe, como se já tivesse nascido virada para lá, para o ocaso e a noite escura. Sempre fui mais de noites que de dias, mais de Outonos e de sombras que de sol, mais de calma e solidão que de festas. Do lado de lá, o lugar onde eu nasci é o oriente, onde o sol nasce, o lugar onde o meu destino e a minha origem se confundem.
No princípio do caminho eu tinha três anos e estava à janela à espera do carro que havia de chegar. E o meu pai chegou já de noite e tinha um casaco de fazenda e uma gravata azul escura às bolinhas brancas e tempo e histórias que durante muito tempo lambi das paredes da sala onde o projector lançava imagens. Sonhos passados e futuros a germinar por mim adentro e uma boneca loira que se ria e falava aquela língua que eu ainda não percebia  e a quem a minha mãe um dia, desgraçadamente, cortou os caracóis.
Por isso eu tenho de entrar em aviões, mesmo com medo de não aterrar noutro lado qualquer, descolada da terra e do céu, para percorrer o caminho da liberdade.


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