29 de abril de 2010

Pessoa

Abro muitas vezes o Livro do Desassossego aleatoriamente, porque é assim mesmo, o livro que não é livro e, geminiana desassossegada, encontro-me sempre nestas páginas. Passem os anos que passarem. Há muito tempo que não o abria. Hoje foi assim (e certo como sempre):

"O que tenho sobretudo é cansaço, e aquele desassossego que é gémeo do cansaço quando este não tem outra razão de ser senão o estar sendo. Tenho um receio íntimo dos gestos a esboçar, uma timidez intelectual das palavras a dizer. Tudo me parece antecipadamente frustre.
O insuportável tédio de todas estas caras, alvares de inteligência ou de falta dela, grotescas até à náusea de felizes ou infelizes, horrorosas porque existem, maré separada de coisas vivas que me são alheias..."

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