10 de setembro de 2009

Adulteza

Lembro-me de gostar, desde muito criança, do cheiro a perfumes fortes misturado com tabaco. Sobretudo nas mulheres. Também adorava o cheiro dos cigarros acesos dentro do carro, do fumo a viajar até ao banco de trás onde eu o inalava com prazer. Acho que o prazer que tirava destes cheiros tinha a ver com as fantasias que construía em volta deles, com o que me transmitiam de luxúria, de algo proibido que as aparências e os comportamentos dos adultos tentavam disfarçar na minha presença, mas que chegava até mim e me fazia desejar ser assim quando crescesse, uma mulher a cheirar a YSL e a tabaco. Agora que cheiro assim, fico cheia de inveja das miúdas que cheiram a champô e óleo Johnson’s. Acho que têm um cheiro lavadinho, uma coisa pura e sem falhas. Pressuponho-lhes as pernas sem celulite, os seios firmes e orgulhosos, os cabelos fartos e brilhantes e sinto os meus trinta e um anos a pesar-me. Mas conforta-me a minha sabedoria, aquilo a que chamamos maturidade e que os ingleses chamam, se traduzirmos à letra, adulteza e que é uma palavra magnífica para designar o que mais valorizo hoje nas pessoas que me rodeiam. Maturidade soa a coisa que está no ponto mas que já não se aguenta por muito mais tempo. Adulteza é coisa sólida, firme, coisa construída a pulso para gerações futuras apreciarem. (Cada vez gosto mais da língua inglesa.)

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