27 de março de 2009

Obsessivo-compulsividades

Toda a vida me lembro de fazer listas intermináveis das tarefas todas que acho que tenho de cumprir num determinado período de tempo. Lavar a loiça, estender a roupa, cortar as unhas, fazer depilação, ir ao supermercado, ir à lavandaria, levar o gato ao veterinário, fazer sopa, sacudir, aspirar, arrumar, regar as plantas, mandar três mails a três pessoas com três assuntos diferentes, fazer uma transferência bancária, carregar o telemóvel, pagar a luz, a água e o gás, entregar o filme de ontem no clube de vídeo, ir à farmácia, ao sapateiro, comprar cigarros, gravar um cd, levar o lixo e as garrafas para o vidrão e marcar a consulta no dentista. Chego ao cúmulo de estabelecer um tempo para cada tarefa. Não me lembro de alguma vez ter cumprido algum. Geralmente, quando faço listas de coisas para fazer, não faço nada.

18 de março de 2009

2 de março de 2009

Os livros dos outros

Sempre que ando de transportes públicos e vejo alguém a ler um livro faço os possíveis para tentar ver que livro está a pessoa a ler. Quase sempre são os livros da moda, os best sellers ou, à moda do Alexandre O’Neill, as bestas céleres. Há uns tempos era o Código da Vinci e outros derivados do Dan Brown, depois veio a febre do Equador do Sousa Tavares, agora são os romances pseudo históricos do José Rodrigues dos Santos e outros sucessos de prateleira. Nunca ninguém me surpreendeu com um William Faulkner ou uma Marguerite Yourcenar ou um Samuel Beckett ou um Herberto Helder ou um Philip Roth... Onde andarão as pessoas que lêem esses livros? Vão todas de carro para o trabalho? Ficam em casa a devorá-los sem conseguir parar para saír? Gostam tanto deles que não os metem na mala para não dobrar os cantos nem sujar a capa? Há sempre aquelas capinhas de papel de fotocópia improvisadas que algumas pessoas colocam para não sujar o livro ou para não mostrarem o que andam a ler. Esses ainda me aguçam mais a curiosidade! Estico o pescoço e semicerro os olhos no esforço míope de tentar ler as letrinhas do topo da página com o nome do livro ou do escritor. Às vezes as pessoas apercebem-se que estou a espreitar-lhes por cima dos ombros e mostram-se incomodadas. É chato, é verdade. Mas não resisto. E não me parece que seja motivo suficiente para matar o gato, por isso, vou espreitando.