11 de setembro de 2008

Silêncio

Silêncio. Embora adore todo o tipo de sons, esta é uma das palavras mais poderosas que conheço. Será porque a associamos à morte? Haverá mais silêncio noutro lugar que não na morte? E, no entanto, que tranquila é normalmente a face dos que já não estão no seu corpo. Podemos experimentar o silêncio à nossa volta de forma mais ou menos agradável, mas nunca com o poder com que sentirmos o nosso próprio silêncio, o que nasce cá dentro.
Lembro-me de apagar as luzes, de fechar as portas e as janelas, de ficar fechada no mofo e no escuro durante muito tempo, mas sempre houve vozes a acompanhar-me, a dar-me indicações, a guiar os meus passos trémulos pelos meus corredores. Essas vozes sempre me fizeram sentir velha por dentro, como se a minha vida tivesse muitas vidas dentro dela e assim, nesse abismo infinito, a minha história não tivesse um princípio com dia e hora marcados, ao contrário do que dizem os meus pais. E sempre aprendi, sempre cresci, mesmo quando tinha de ouvir aquelas coisas que nos magoam e nos aparecem passado muito tempo num sonho qualquer. Mas agora sinto que alguma coisa mudou. Embora haja já alguma luz a entrar, o silêncio é uma almofada gigante dentro do meu peito e eu acordo de manhã a cuspir bolas de algodão. Este silêncio só se sente quando se ouve e, por algum motivo, se fica surdo. Para sempre. É o tipo de silêncio que me afasta da realidade dos outros e me deixa descansar um bocadinho. Descansar dessas vidas todas que me envelhecem, descansar das vidas dos outros. Este silêncio é o meu Outono, é a minha morte, necessária para que haja Primavera dentro do meu peito outra vez e as vozes possam, então, não se calar.

Sem comentários: